21 fevereiro 2008

Um Domingo Qualquer


De repente chega a tristeza, a desmotivação típica de um domingo se encontra com a frustração pelo seu time que leva o gol de empate aos 48 do segundo tempo. Ao voltar do estádio, no carro, lamentava a possibilidade de estar curtindo um final de domingo alegre, mas naquele momento tudo o que fazia era me queixar com os amigos da falta de sorte, de dinheiro para ir no show de rock à noite, das férias agonizando.

Foi então que uma cena chama atenção: Um jovem, vestido de palhaço, como se saísse de um clipe dos los hermanos, aproveita o sinal vermelho pra fazer sua pequena apresentação. Com trajes que, apesar de baratos, demonstram ótimo senso estético, o indíviduo começa sua apresentação de malabares.

O jovem, em seus vinte e poucos anos, demonstra habilidade, e termina sua breve performance para passar a recolher os trocados. Contudo, tem que abortar o plano na última hora, porque o sinal abre e os motoristas, sem muita paciência, põe seus veículos em movimento, talvez ele tenha errado no cálculo do tempo. Então um outro detalhe se revela, o jovem não tem uma das pernas, e vai saltitando até a sarjeta, seu camarim improvisado onde aguarda até a próxima apresentação.

Neste momento coloquei as coisas um pouco em perspectiva, e conversando com meus amigos chegamos à conclusão de como reclamamos por tão pouco. Nos tornamos pequenos rabugentos ao dar amplitude a problemas mínimos, e gastamos boa parte do nosso tempo aborrecidos com pequenas coisas. Sem querer minimizar meu amor pelo time nem nada, mas acredito que muitas vezes não tenho noção de quanto sou feliz, ainda que não perceba e relute em aceitar isso.

Da mesma forma que se adota um ponto de referência para se mensurar a velocidade de um objeto, podemos fazer com nossas vidas. Tomando como ponto de referência o jovem sem perna que luta pelo ganha pão em uma tarde de domingo, tenho certeza que minha posição no ranking de felicidade de Londrina não é tão má. Este egoísmo e indiferença com as vidas que nos cercam talvez seja a chave para se buscar um pouco de paz de espírito.

E esta velha lição, que provavelmente todos nós já tenhamos escutado de alguém, principalmente de nossos pais (lembra das crianças da África e seu desdém pela comida no prato?), se repetiu em minha cabeça pelo resto do dia. É, acho que estou mesmo envelhecendo, passada a adolescêsncia, jargões morais como este parecem fazer sentido mais do que nunca. Ah sim, passei o resto do dia emburrado por aquela desgraça de empate. Mas Futebol se perdoa né?

8 comentários:

Anônimo disse...

Um certo dia andando perto do terminal vi uma pessoa comemorando a chegada da Metamorfose pois seria um ótimo dia para se catar 'latinhas'. Perspectivas! Uns comemoram mais um dia em que beberão e se apaixonarão a cada cinco minutos...outros os dez, vinte reais (o que se equipara ao preço de UM convite) que ganharão naquele mesmo dia e evento. Acho que não aceitamos que 'samos' (rima ridícula!) felizes pois isso nos traria responsabilidades!!

Gerson

Rafael Borelli disse...

Outro dia eu tava pensando nisso mesmo. Não damos o devido valor ao que temos, disso não há dúvida. Sempre há algum motivo (geralmente mesquinho) que nos faz dizer que as coisas não andam tão boas ou que PODERIAM ser melhores.
Claro que poderiam, obviamente. Mas que reclamamos de boca cheia, ah reclamamos.

abração!

M. disse...

Sexta vi um acidente horrível no cruzamento da Tiradentes com a Arthur Thomas. Dois carros bateram, um capotou. A passageira deste morreu. E essa é a pior parte: nesse cruzamento existe um semáforo, então é impossível saber qual motorista estava certo e qual estava errado. A única pessoa que não tinha qualquer chance de estar errada foi a que morreu..

Fiquei muito abalada com isso, pensei no quanto a família sofreria com a morte da filha que saiu para se divertir e nunca mais voltou, na família que naquele momento ainda dormia tranqüilamente enquanto a filha estava morta dentro de um carro capotado... Desculpa o ar dramático, mas foi realmente horrível...

E no entanto aqui estamos nós reclamando do time que saiu da zona de classificação, das férias que acabaram, da falta de dinheiro e outras bobagens. Pois são bobagens. Devíamos é agradecer todos os dias por essas e tantas outras coisas, e agradecer muito.

beijos

M. disse...

Meu comentário ficou confuso, espero que dê para pelo menos pegar a idéia...

beijos

Anônimo disse...

Assustadora essa idéia de Ranking da felicidade em Londrina!!! A reflexão é válida..mas às vezes penso que pode ser falaciosa. Meus problemas financeiros podem ser tão graves quanto os seus com o futebol.. estes tão graves quanto a dieta da Fulana da Silva, ou a deficiência do palhaço. Tudo depende da perspectiva, e da capacidade de superação. Não é? Não sei.
...

(É a Tati.. não tenho a capacidade de assinar no lugar devido)
...
Tenho visitado seu blog! Não deixe de atualizar!!

Anônimo disse...

É Zé...

falta de tempo, dinheiro, de prazeres futeis e por ae vai.

e por reclamarmos por tão pouco, por coisas tão insignificantes, deixamos de aproveitar bons momentos e de lutar por aquilo que acreditamos que realmente vale a pena...

triste.

Um abraço! Continue escrevendo!

Rodolfo Ciciliato

Rafael Borelli disse...

Velho, posso te dizer que TODOS meus personagens são colagens de pessoas que eu conheço e claro, grande parte da minha pessoa, sem a menor dúvida.

Principalmente os homens, sempre inseguros, cinéfilos e NARIGUDOS! hahahah

abraço, meu querido

Anônimo disse...

Esse nosso velho egoismo que muitas vezes não permite enxergar o quanto somos felizes. Adorei o blog! Atualiza mais vezes! =)