12 março 2008

Vá com deus


Na passagem do ano passado pra esse, não lembro de ter formulado nenhum pedido específico, não sou supersticioso e preferi me concentrar em objetivos e metas a serem atigidas. Mas se pudesse voltar à noite de Reveillon, eu pediria que junto com 2007 fosse embora a Tropa-de-Elite-Mania que se instaurou no segundo semestre do último ano. Em especial as piadas!

Tá bem, o filme é uma produção muito boa para os padrões Brasileiros, tem uma história que se desenvolve de forma envolvente e tal, mas a ideologia de abuso de autoridade e o louvor à instituição Polícia, distorcendo a realidade para se adaptar à visão do homem médio brasileiro, me irritou, bastante.

Mas não tanto quanto à moda que se instaurou depois da popularidade do filme. No começo era legal, piadas com Capitão Nascimento pra cá, "Pede pra sair!" pra lá, "Fanfarrão!" ali, e todos se divertiam, babando sobre os amigos gargalhantes ao brandar as palavras de ordem do nosso célebre Capitão para a roda . Só que com o passar do tempo, a cada vez que eu ouvia qualquer uma das frases acima, minha vontade era cavar um buraco e me enfiar dentro.

E seguiram-se as milhares de paródias na tv, as músicas da trilha sonora sendo executadas em festas (algumas vezes só né, pra ninguém enjoar!), e as piadas, ah as piadas... com elas decorei todas as cenas do filme, assistindo-o somente uma vez!

O pior é que até hoje ainda solto algumas delas às vezes... triste. Mas para falar que não aprendi nada com o filme, vai uma lista com as cinco lições que a produção brasileira que eu desejo que caia no esquecimento me ensinou:

1- Ao receber uma batida da RONE, nunca mais direi que sou estudante.
2- O senso comum Brasileiro é decepcionante, de verdade.

3- Ouvir uma música repetida à exaustão pode causar graves alterações no humor.

4- Não dá pra discutir com quem assitiu o filme e concorda com a ação da polícia nele.

5- É... cinco lições é exagero.
Em tempo: Começei a escrever este post logo após o filme ganhar o Urso de Ouro. Timing é tudo né gente.

21 fevereiro 2008

Um Domingo Qualquer


De repente chega a tristeza, a desmotivação típica de um domingo se encontra com a frustração pelo seu time que leva o gol de empate aos 48 do segundo tempo. Ao voltar do estádio, no carro, lamentava a possibilidade de estar curtindo um final de domingo alegre, mas naquele momento tudo o que fazia era me queixar com os amigos da falta de sorte, de dinheiro para ir no show de rock à noite, das férias agonizando.

Foi então que uma cena chama atenção: Um jovem, vestido de palhaço, como se saísse de um clipe dos los hermanos, aproveita o sinal vermelho pra fazer sua pequena apresentação. Com trajes que, apesar de baratos, demonstram ótimo senso estético, o indíviduo começa sua apresentação de malabares.

O jovem, em seus vinte e poucos anos, demonstra habilidade, e termina sua breve performance para passar a recolher os trocados. Contudo, tem que abortar o plano na última hora, porque o sinal abre e os motoristas, sem muita paciência, põe seus veículos em movimento, talvez ele tenha errado no cálculo do tempo. Então um outro detalhe se revela, o jovem não tem uma das pernas, e vai saltitando até a sarjeta, seu camarim improvisado onde aguarda até a próxima apresentação.

Neste momento coloquei as coisas um pouco em perspectiva, e conversando com meus amigos chegamos à conclusão de como reclamamos por tão pouco. Nos tornamos pequenos rabugentos ao dar amplitude a problemas mínimos, e gastamos boa parte do nosso tempo aborrecidos com pequenas coisas. Sem querer minimizar meu amor pelo time nem nada, mas acredito que muitas vezes não tenho noção de quanto sou feliz, ainda que não perceba e relute em aceitar isso.

Da mesma forma que se adota um ponto de referência para se mensurar a velocidade de um objeto, podemos fazer com nossas vidas. Tomando como ponto de referência o jovem sem perna que luta pelo ganha pão em uma tarde de domingo, tenho certeza que minha posição no ranking de felicidade de Londrina não é tão má. Este egoísmo e indiferença com as vidas que nos cercam talvez seja a chave para se buscar um pouco de paz de espírito.

E esta velha lição, que provavelmente todos nós já tenhamos escutado de alguém, principalmente de nossos pais (lembra das crianças da África e seu desdém pela comida no prato?), se repetiu em minha cabeça pelo resto do dia. É, acho que estou mesmo envelhecendo, passada a adolescêsncia, jargões morais como este parecem fazer sentido mais do que nunca. Ah sim, passei o resto do dia emburrado por aquela desgraça de empate. Mas Futebol se perdoa né?

11 fevereiro 2008

Notas ao partir

Um projeto não finalizado de Niemeyer, faltou dinheiro para o concreto armado e fizeram com zinco mesmo. Símbolo do progresso ultrapassado, o tempo leva a beleza, mas não a utilidade. Ali dentro se concentram os mais diversos sentimentos, a pressa contratasta com o excesso de tempo na espera, quando a solução é procurar o jeito mais fácil de cochilar no chão frio e sujo.

E em meio à sujeira feita pelos milhares de transeuntes é possível encontrar restos de sentimentos deixados para trás. Restos de corações partidos, de lágrimas pela despedida inevitável, da saudade que já começa a incomodar. Encontros e despedidas, esperanças se esgontando e sendo renovadas, o alívio de adentrar ou de deixar este chão vermelho. É possível também encontrar resquícios de alegria, mas estes são poucos, pois sentimentos como tais são retirados dali rapidamente, buscando conforto longe da atmosfera pesada e intranqüila.

Como em todas cidades, a rodoviária de Londrina encontra-se no lugar mais velho e feio possível, em uma avenida que mais parece um cenário utilizado nas filmagens de Mad Max, devido à alta concetração de ferros-velhos e oficinas mecânicas. Lugar onde se encontram deliciosos sucos e vitaminas, mas não se pode encontrar conforto. Lugar onde se vê rostos jovens marcados pelas crueldades que a distância faz com o amor, rostos velhos marcados pela vida dura e ingrata. Vida que não pode parar, não pode deixar de ir e vir, em cada plataforma de embarque.

29 janeiro 2008

Brain Error


"— O que você acha que é um cérebro? — disse Jordan. — Um disco rígido gigante. Um conjunto de circuitos orgânicos. Com ninguém sabe quantos bytes. Talvez um giga elevado à enésima potência. Uma infinidade de bytes. — Ele colocou as mãos nas orelhas, que eram pequenas e bem-feitas. — Bem aqui no meio."


Em alguns países, o número de telefones celulares ultrapassava o número de habitantes, qualquer de nós pode dizer o quão dependente deles nos tornamos nos últimos anos. Naquele 10 de Outubro, às 15:03, aconteceria o evento que faria a civilização humana conhecer sua segunda Idade das Trevas.

O Pulso, como veio a ser denominado posteriormente, atingiu todas as ligações que estavam em curso em aparelhos celulares naquele momento, fazendo com que seus portadores fossem tomados pela raiva e saíssem à procura da maneira mais rápida de matar todos que estavam a sua volta.

O Caos se instalara, os que relutaram em aderir à tão útil tecnologia, os que não tinham dinheiro para fazê-lo ou tinham se lamentado, mais cedo, por ter deixado o seu aparelho em casa carregando a bateria, procuravam qualquer objeto para se defender na carnificínia que se instaurava. E o pior: se você estivesse lá, qual seria sua primeira reação ao ver seus semelhantes se devorando, carros desgovernados e gente se arremessando de prédios? Eu pegaria o celular para discar 190.


O que se passaria em nossa mente, se dela retirássemos toda nossa capacidade de raciocínio, nossa memória, todo nosso pensamento consciente, se sobrasse apenas os instintos mais básicos do homem, como o dono dela se comportaria? Os sobreviventes do massacre inicial passaram explicar o desastre à sua maneira (já que a maioria dos cientistas já estava morta ou louca poucas horas depois), fazendo analogia entre o cerébro humano e um Hard Disk: retirando-se todo o conteúdo do cerébro humano como se retiram dados de um HD, o que sobraria? Com certeza o que há de mais cru e cruel na natureza humana, nada que nos diferencie dos outros animais. Para a tristeza de Rousseau, a bestialidade, os instintos sem os freios de qualquer consciência moral prevaleceram, e se instalou a sociedade da violência e do medo.

É neste cenário que Clay, um cartunista que procurava de emprego em Boston, inicia uma jornada em busca de seu filho, lutando com a angústia por lhe ter dado um celular vermelho em seu último aniversário. Trata-se de Celular, Obra recente de Stephen King, creio não ser uma das melhores, mas foi uma boa leitura de férias.

"— Sim — concordou o Diretor. — No fundo, não somos nem um pouco Homo Sapiens. Nossa diretriz primária é matar. O que Darwin foi educado demais para dizer, meus amigos, é que dominamos a Terra não porque éramos os mais inteligentes, ou mesmo os mais cruéis, e sim porque sempre fomos os mais loucos, os mais desgraçados homicidas da floresta. E foi isso que o Pulso demonstrou cinco dias atrás."

22 janeiro 2008

De novo?

E aqui nos encontramos de novo, neste espaço mais desatualizado que Windows 98, mais ignorado que o livro da Mônica Veloso e mais abandonado que a Casa do Papai Noel.

Estou chegando a conclusão que blog pra mim é coisa para se fazer nas férias, quando há tempo de sobra, e sobra falta do que fazer. Porém, como não poderia deixar de ser, vou prometer atualizá-lo com uma freqüencia razoável durante este ano.

Antes de decidir voltar me perguntei várias vezes o porquê de eu sempre tentar de novo, tento voltar pois escrever aqui me ajuda a exercitar a criatividade, um atributo que durante os últimos anos vem sendo sendo sufocado em decorrência de um cada vez mais atarefado curso de Direito.

Talvez seja esta a razão de eu só escrever nas férias, então vamos aproveitar.

Lembrando que este poderá ser o único post do ano... hehe.

29 abril 2007

Terra de Vencedores 2

Ao ver o que aconteceu segunda feira nos EUA, não me surpreedi, infelizmente.

A moral/ideologia (ainda não sei definir qual é o certo) que tentei descrever na resenha do texto anterior atacou novamente.

Não é preciso ser a Mãe Diná pra saber que tal tragédia voltaria a acontecer, e que ela vai voltar a acontecer.

O mais irônico é que os EUA agora tem que se preocupar com um novo terrorista: seus próprios cidadãos.
Uma nova desgraça para o Tio Sam, que já crio os homens bombas com sua politíca externa, e agora cria os seus novos terroristas com sua moral intolerante: São os depressivos, solitários, excluídos do meio social, "loosers" capazer de fazer um grande estrago com pistolas automáticas compradas pelo correio.

Só resta lamentar e torcer para que o inevitável não mais ocorra...

Terra de Vencedores

Há alguns tempos atrás pretendi fazer essa resenha do filme A Pequena Miss Sunshine":

È uma comédia simples e despretenciosa, mas em alguns momentos me deixou mais angustiado do que com vontade de rir.

Ao que interessa: o filme retrata uma América decadente e trágica, que divide seus cidadãos entre vencedores fracassados com sua moral delirante.
A famíla Hoover é composta de perdedores, (os famosos Losers). O Pai falha com seu projeto de motivação pessoal, o tio é um intelectual que perdeu tudo e agora junta coragem para tentar o suicídio, o avô é viciado em cocaína e pornografia, o filho é o típico "nerd", em voto de silêncio há mais de um ano, e Olive (Abigail Breslin), é uma criança fanática por concursos de beleza, muito simpática, porém com formas nada adequadas aos padrões estéticos.

Observa-se que as crianças, desde pequenas são condicionadas à uma ideologia que devem ser as melhores a qualquer custo, todos devem necessariamente passar pela seleção natural, que começa na escola e vai até a hora de entrar no mercado de trabalho. Os que não sobrevivem a esta seleção são condenados à viver aos custos da Previdêcia e de anti- depressivos.

Tudo isso está demonstrado na figura do Pai e no rídiculo concurso de miss em que a garotinha participa, porém essa moral pode ser encontrada em qualquer filme ou produto cultural Norte Americano.

Assim, essa sociedade prioriza o individualismo, a satisfação profissional, o status, a riqueza material e o poder, em detrimento de valores como cooperação, solidariedade, humildade.

Por mais brega que esse discurso seja considerado, ele ainda faz sentido, pois a mesma nação que forma os "líderes mundiais", cria os depressivos que compram armas pelo correio e entram em sua escola assasinando os colegas.

13 janeiro 2007

Cassino Royale

A última vez que assisti um 007, prometi que nunca mais veria nenhum filme da série. As cenas de Um novo dia para morrer (2002) são ridículas, além de ter uma história ruim e nada original as Bond Girls estão péssimas.

Mesmo sabendo de todas as mudanças que viriam com Cassino Royale(2006), não fiquei muito animado a ponto der ir no cinema para velo, mas como já estava no shopping e aparentemente era o melhor filme em cartaz resolvi vê-lo.

Logo nos primeiros minutos de filme, percebi que algo havia mudado. As tradicionais cenas de ação iniciais mostravam-se muito mais reais, verossímeis. Pelo menos em comparação ao último filme onde quase todas cenas tinham computação gráfica e carros viravam piruetas com Bond acionando o assento ejetável.

Cassino Royale, que eu acredito ser a refilmagem de uma versão antiga, possui uma história muito bem elaborada e intrigante. Grande parte do filme se passa durante uma tensa e milionária partida de pôquer, sabiamente intercalada com cenas de ação e pancadaria nos corredores do hotel onde ela está sendo realizada.

Mas o que eu mais gostei é do novo James. Pierce Brosnan foi um Bond razoável, mas estava mais pra um conquistador do que para um agente secreto inglês, outros agentes durões como Jason Bourne(Matt Damon) e e Jack Bauer(Kiefe Sutherland, algo assim) deixavam o personagem de Pierce Brosnam parecendo um vigia noturno.

Agora o novo bond, sei lá, tem mais cara de agente secreto, mais cara de inglês, mais cara de brigão, também charmoso, mas é também mais humano, isso que é o melhor.Bond agora comete erros, quase morre, tem de ser salvo algumas vezes.

Tudo isso esteve em mente da produção do filme, que quis dar este tom "mais realista" ao filme, que há muito tempo estava perdido em um mundo de explosões, efeitos digitais, armas mirabolantes, personagens fracos e estereotipados.

Espero que a série continue no rumo tomado em Cassino Royale, mostrando que ainda tem algo a proporcionar ao cinema.